Triatleta Carnívoro compete o Ultraman totalmente em Jejum

Alessandro Medeiros conta os detalhes do mundial de Ultraman onde conquistou o mundial na sua categoria sem se alimentar por 3 dias

Triatleta Carnívoro compete o Ultraman totalmente em Jejum

Em sua 4ª participação no mundial de Ultraman, o niteroiense Alessandro Medeiros, 54 anos, venceu mais um desafio. Além da distância de 515km o brasileiro, que é baseado na Flórida, nos EUA, fez a prova toda e se manteve totalmente em jejum, somente com hidratação de água, sais e eletrólitos. O brasileiro chegou na 7ª posição geral, conquistando ainda o mundial na sua categoria

Tri Sport: Por que competiu em jejum o Ultraman dessa vez? Qual o propósito?

A idéia de competir o mundial de Ultraman em jejum veio da minha participação no Ultraman Brasil 2024 onde eu fiz a prova praticamente em jejum metabólico, eu me alimentei praticamente no final dos dois dias de prova. Eu estava com uma lesão, então eu quis fazer um teste. Vimos nos relatórios que eu não me alimentei praticamente de nada e dai surgiu a ideia de fazer totalmente em Jejum.

TS: Em comparação a sua performance/velocidade este ano, com relação a outros Ultramans. Como foi?

Em relação a esses dados de velocidade em comparação eu não estava muito preocupado não, pois é tudo muito novo. Eu até avisei a minha equipe de apoio que era tudo novo, é um matagal, vamos ter que passar por cima, nunca tinha sido feito isso. Foi uma descoberta muito grande, nunca fiquei preocupado com a performance e velocidade dos outros anos. Mas pelo que vi aqui eu estou com mais idade. Completei a prova em apenas 1h a mais do que os últimos 2 anos. Tem que levar em consideração vários fatores.

TS: Qual o objetivo desses comportamentos nutricionais "diferentes" que vem praticando? Aonde você quer chegar? Qual é o objetivo?

Muito boa essa pergunta sobre os comportamentos nutricionais diferentes. Pois na verdade o que eu estou fazendo é retomar o que os nossos ancestrais faziam. O que nossa espécie humana foi feita e desenvolvida para seguir. Uma alimentação a base de carne e gordura animal, um comida de verdade. Nada mais é uma retomada da nossa ancestralidade.

A gente só que abrir o leque para as pessoas escolherem. Eu não falo mal do carboidrato. O ponto maior são os industrializados, eu acho interessante que pessoas tirem isso de suas vidas. Exemplo: Ah eu quero agora correr em jejum, me alimentar de mais carne por exemplo. Isso é uma opção, e não ficar refém somente do carboidratos e géis.

TS: Conte-nos o problema de saúde que teve esse ano que quase o tirou do mundial de Ultraman?

Em agosto, voltei ao Brasil para fazer uma cirurgia de raspagem da próstata, um procedimento que eu considerava simples. No entanto, a longa viagem dos Estados Unidos e o fato de a cirurgia estar agendada logo após a minha chegada se tornaram fatores complicadores. A cirurgia correu bem, mas alguns dias da anestesia, percebi que algo não estava certo. Senti um desconforto nas pernas e, ao relatar isso ao médico, ele minimizou a situação, dizendo que não era nada grave. Infelizmente, essa avaliação estava errada. O que eu não sabia era que estava desenvolvendo uma trombose, que culminou em uma tromboembolia pulmonar, colocando minha vida em risco.

Voltei para o hospital e fiquei internado por dois dias, recebendo anticoagulantes intravenosos. Após a alta, comecei a tomar anticoagulantes orais. Nos três meses seguintes, adaptei completamente minha rotina de treinos. Treinei indoor a parte de bike por motivos dos medicamentos porque não poderia sofrer nenhuma queda e ter o risco de uma hemorragia intensa.. Foi um período difícil, mas eu sabia que não podia desistir.

TS: Como é a sua dieta normalmente?

Basicamente carne vermelha, dependendo do ciclo de treinamento que me encontro. Eu faço café da manhã, almoço e jantar. Outros somente almoço e jantar. Para esse ciclo do mundial de Ultraman nos últimos 3 meses eu fiz jejum de 24h todos os dias, basicamente me alimentando de carne vermelha, todas as noites. Adicionando em alguns momentos manteiga e ovos.

TS: Se você comesse normalmente, ou melhor, a sua picanha ou carne vermelha com ovos e manteiga, como de costume, acha que ainda poderia ter ido melhor?

Eu realmente não sei. Na questão de energia, eu fiz um exame antes da prova, o Dexa, que nos mostrou que eu estava com 10% de gordura. Pelos nossos cálculos com essa gordura nos daria 80mil calorias estocadas (gordura). Para cada dia o cálculo era de 10mil calorias, o que era o suficiente. Teríamos que fazer uma outra prova me alimentando durante e depois para poder fazer essa comparação.

TS: E se não estivesse em jejum, o que utilizaria durante a prova?

Se eu não tivesse em jejum eu me alimentaria como sempre faço: usaria de caldo de ossos, fígado bovino desidratado, colostro, ovos cozidos e bacons, que tem muita caloria.

TS: Pode nos relatar seu melhor e pior momento na prova?

Eu tive uns problemas mecânicos na bike, isso me tirou muita energia. Mas o pior foi no segundo dia por volta do km 170 de ciclismo, onde o freio estava pegando muito e eu fiquei muito irritado, comecei a pedalar em zig zag. Mas consegui me recuperar com uso de sal marinho e um bom café. O melhor momento foi sem dúvida a linha de chegada. Ainda mais para um Ultraman.

TS: Dentro dos bons e mal momentos que temos em uma prova de endurance. Qual a diferença para outras provas que não fez em jejum e como lidou com eles?

A diferença dessa vez foi em dúvida a questão do bem estar. Incrivelmente no final de cada dia eu me sentia muito bem, de bom humor e com poucas dores musculares o que para um prova dessas é muito incomum. Precisamos avaliar essa questão da cognição e dos corpos cetônicos alto. Estava com um respiração boa e bom astral.

TS: A sua frequência cardíaca se manteve muito baixa na prova, principalmente na corrida em seus 84km. Foi baixa pois o ritmo foi baixo, ou é porque era o que o corpo conseguia entregar dentro do metabolismo de gordura, que é mais lento? Qual é sua avaliação preliminar?

Esse dado foi interessante da frequência cardíaca baixa na prova, principalmente na corrida de 84km. São dados que vamos colocar na mesa agora junto aos profissionais de saúde junto com o meu técnico, para avaliar isso.

Durante os três dias de competição minha zona cardíaca ficou entre a zona 1 e zona 2, e acabei correndo mais rápido do que no mundial do ano passado, onde me alimentei o tempo todo.

TS: Por que você começou a adotar essas dietas na sua vida e no esporte? Como tudo começou?

Comecei a adotar esse estilo de vida e fui descobrindo que ganhava mais saúde e performance. Venho alterando as estratégias nutricionais durante as competições para descobrir o método ideal para mim e por incrível que possa parecer descobri que a carnívora e o jejum se encaixam perfeitamente para mim.

Mais o que mais me motiva é mesmo a busca do conhecimento de como nosso corpo funciona com a falta de alimento e baixo carboidratos nos esportes de endurance. Estamos indo para o nosso segundo estudo de caso com exames pré competições, durante a prova e no pós prova também. Não existe nada no mundo falando sobre isso.

TS: Talvez essa tenha sido a sua maior façanha e os dados serão parte de um estudo de caso. Como se sente após esse feito e qual é o próximo desafio do Triatleta Carnívoro?

Sim, o nosso projeto neste mundial foi também coletar dados para entregar para uma equipe médica, de nutricionistas e preparadores, para tentar entender como a carnívora e o jejum trabalha nos esportes. Como ela interfere. Sem dúvidas nós temos dados riquíssimos para analizar isso.

Meu próximo desafio é tentar a classificação para a Badwater (217km), a ultramaratona mais difícil do mundo. Vamos fazer ela na carnívora, não vai ser em jejum não. Dessa vez eu vou comer...rs.

Perfil

Alessandro Medeiros, 54 anos

Bike: Factor

Rodas: Black Inc

Pneus: Continental Grand Prix 5000

Capacete: Oakley

Sapatilha: Giro Easton

Wetsuit: Zoot Kona

Óculos de natação: Aqua Sphere

Tênis de Corrida: Hoka Bondi

Nutricionista: Letícia Moreira; Técnico: Ezequiel Morales; Médico do Esporte: Leonardo Santos; Capitão Staff: Cristiano Marcelino; Videomaker: Fernando Cellani