Mitos e verdades sobre o pullbuoy

Os benefícios e malefícios da utilização de pull buoy e palmar para triatletas

Mitos e verdades sobre o pullbuoy

Na minha opinião, um grande erro no triathlon é que pessoas mal nadadas acham que resolverão todos os seus problemas nadando basicamente com pull buoy… isso até o dia que precisarem realizar um triathlon sem o uso da roupa de borracha! O pull buoy e o wetsuit se assimilam na função de colocar o nadador na linha da água, então a facilidade – que antes não existia – aparece. Na piscina, por exemplo, equipado com pull buoy e palmar, o atleta fica bem posicionado, sem o quadril afundado, com mínimo arrasto e sem a ação propulsora da perna (que reduz drasticamente o gasto energético de quem não sabe executar o movimento), nadar se torna bem mais fácil.

Quando o atleta tem uma natação bem desenvolvida, o pull buoy e seus “primos” são utilizados, por exemplo, para potencializar suas braçadas e minimizar o gasto energético das pernadas. Isso é uma coisa! Outra totalmente diferente é quando o atleta não tem uma natação bem desenvolvida e usa o equipamento como muleta. Não adianta, não há atalhos! Ele tem que realizar o processo evolutivo da natação. Caso não faça isso, na primeira oportunidade que não houver o uso do neoprene, ele vai “afundar” e fracassar. É parecido, sim! Mas para a memória de aprendizado e evolução não é nada igual.

Muita gente defende que, trabalhar de pull buoy e palmar durante a maior parte dos treinos para o triatleta é muito bom, partindo do princípio que ele utiliza bem menos as pernas do que os nadadores competitivos de fundo, por exemplo. A questão é que as pernas são muito importantes para o equilíbrio do nado, então mesmo que muitos triatletas não tenham capacidade de trabalhar pernadas de quatro e seis tempos, nadar o chamado “dois tempos moderado” sempre será útil, para evitar que o nado fique “serpenteado”, já que na hora da competição o pull buoy é proibido. Com o uso do equipamento o atleta realiza uma contração dos adutores para segurá-lo entre as pernas, ajudando a estabilizar o quadril e, consequentemente, ficando na linha d’água e reduzindo a frenação que ocorreria se estivesse sem o equipamento… tudo resolvido na piscina! Entretanto, no mar, sem suas “muletas”, a situação fica mais complicada.

Geralmente, quando o nadador tem o movimento de pernas ruim, elas ficam afundadas, formando até um ângulo de 45º em relação à água. Com este arrasto é difícil nadar! Não bastasse isso, durante o treinamento, ao utilizar palmar + pull buoy, o esforço físico é reduzido em quase 20%. Na minha opinião, o excesso de utilização destes equipamentos no treinamento é um erro gravíssimo, mesmo que, na hora da prova, o wetsuit esteja liberado. Já é amplamente sabido que nadar de roupa de borracha é bem mais fácil, com o efeito muito semelhante ao produzido pela dupla palmar + pull buoy, mas, para principalmente os iniciantes, esse excesso é ainda pior, já que o aprendizado natatório começa pela força propulsora de pernas, tanto é que, ao chegar numa escolinha de natação, a primeira coisa que a criança recebe é a prancha de natação. É ali que começa a natação.

Somada a essa questão, outra que não costumam dar atenção, o tamanho do palmar. A filosofia adotada na escolha deste equipamento é a chamada “quanto maior, melhor”. Só que este palmar não é indicado para nadadores de fundo – caso dos triatletas – e sim para nadadores de velocidade, que utilizam a braçada moderna, conhecida como “ventilador” ou reta, e não a econômica, onde o atleta alonga mais as braçadas. Além disso, o uso indiscriminado desse equipamento por atletas não-nadadores, faz o mesmo perder a varredura correta e a sensibilidade quando está sem ele, sem contar a sobrecarga na musculatura dos ombros. O ideal então, para o triatleta, é utilizar o palmar médio, que não atrapalha varredura submersa, não afeta tanto os manguitos rotadores e te mantém com um mínimo de sensibilidade ao meio líquido. Não bastasse o tamanho, aconselho a escolha pelo palmar com furinhos, que deixa passar a água e te mantém em contato com a mesma, sem perda de propriocepção que ocorre com o palmar todo fechado, onde o contato da mão é com o plástico, sem sentir a água passar.

Técnicas de uso


O ideal é não prender o palmar no punho, e sim apenas no dedo. Isto vai ajudar o nadador a forçar fazer a varredura certinha, porque se ele não posicionar o cotovelo corretamente dentro d’água e finalizar a braçada adequadamente, o equipamento vai “descolar” da mão. Se ficar muito difícil, a dica é investir o palmar, prendendo quatro dedos com a parte onde o elástico é maior.

Momento de uso


O volume do treino é parte importante da estratégia do treinamento, então como fonte motivacional, quando o triatleta está muito fadigado de um treino de ciclismo e/ou corrida, sim, vale a pena o uso do palmar + pull buoy. Mas a dica que dou é, no momento que a fadiga estiver alta e tiver que recorrer aos equipamentos durante a sessão, introduza o trabalho com o bloqueio do ciclo respiratório, ou seja, o que ele estava fazendo respirando unilateralmente a cada duas braçadas, ou bilateralmente a cada três, passará a fazer a cada ciclo de cinco, sete ou nove braçadas, por exemplo, conseguindo assim elevar a frequência cardíaca através do bloqueio e, ao mesmo tempo, incrementar o trabalho com o sistema cardiovascular, mas com menor desgaste muscular.

Claudio Morgado é técnico de triathlon e um dos precursores do esporte no Brasil. @morgadotri